Entre nomes, incêndios e dispersão
A Fábrica de Sonhos já era. São Paulo agora tem a Fábrica do Samba (foto / divulgação).
O anúncio foi feito na última terça-feira (8) pelo prefeito Gilberto Kassab. O motivo seria que o primeiro nome não teria sido bem aceito pelas pessoas. “A cidade não sabia o que era isso. Tinha que ficar explicando”, justificou.
E Kassab está certo. O nome "Fábrica de Sonhos" sempre vinha acompanhado da explicação “a cidade do samba paulistano”. O novo nome é mais direto e preciso em relação ao que vai ser feito lá dentro. O presidente da Liga das Escolas de Samba, Paulo Sérgio Ferreira, ainda foi mais fundo. “Sonho a gente só fica sonhando, não realiza”, comentou.
O Carnaval paulistano é uma realidade. Graças ao Censo do Samba, também lançado no dia 8, a gente sabe que essa verdade foi conquistada por cerca de 107 mil foliões espalhados por todos os grupos. O estudo também apontou que as escolas investem, em média, R$ 45,4 milhões para os desfiles, mas o retorno disso em turismo chega a R$ 51 milhões.
Saindo da burocracia dos números, o levantamento só veio comprovar o que para nós, sambistas natos ou não, nunca foi dúvida. O Carnaval é um negócio sério e importante para a cidade. Investir no samba não é jogar dinheiro fora, mas aumentar o impacto turístico da cidade.
Sendo assim, não tem como não sair impressionado dos barracões. Poucos podem desfrutar de um chão regular ou de uma cobertura total. Raros são aqueles que contam com a iluminação adequada ou com o sistema elétrico dos mais confiáveis. Como se pode fazer o maior espetáculo da Terra em tão lugares tão impróprios?
O drama vivido pelas comunidades da Grande Rio, Portela e União da Ilha impressiona não só pela tristeza de perder todo o trabalho para o Carnaval. O acidente aconteceu em um lugar com a melhor estrutura possível para se fazer a folia. Mas não podemos vitimar agora o modelo de galpões geminados, culpando-o pelas chamas terem se espalhado mais rapidamente. Uma única escola destruída, como disse um amigo carnavalesco, já seria suficiente para se fazer do incêndio uma tragédia sem tamanho.
Se é fábrica de samba ou de sonhos, não importa: um tem um pouco do outro. Para mim, este é um projeto de dignidade ao Carnaval.
Para não dizer que não falei das flores
O posto de gasolina localizado no final da dispersão vai se mudar. Segundo a prefeitura, a área já estará liberada para o Carnaval de 2012. Essa é uma briga que completou 20 anos e muito freqüentou as discussões entre Mercadoria (Liga), Edileia dos Santos (Uesp) e Nanci Frangiotti (Anhembi) na construção do Sambódromo. Não que hoje a saída dos desfiles vá mudar de dinâmica. Os carros vão continuar indo para o terreno da Aeronáutica, do outro lado da Av. Olavo Fontoura. Mas imagine desmontar o abre-alas da Vila Maria sobre a imigração japonesa ou a coleção de tigres da Império com uma dispersão muito maior? Parabéns aos sambistas.